sábado, 20 de fevereiro de 2016

Poesia para a Quaresma

À Coroa de Espinhos

Agostinho da Cruz (Portugal 1540 – 1619)


A que vindes, Senhor, do Céu à terra,
Terra que, sendo vossa, vos enjeita,
E que tanto vos honra e vos respeita,
Que em não vos receber insiste e emperra?

Ah! Quanta ingratidão nela s’encerra!
Quão mal de vossa vinda se aproveita!
Pois se põe a tomar-vos conta estreita,
Mais brada contra vós, quanto mais erra.

E vós de vosso amor puro forçado
Os malditos espinhos lhe pisais,
Dos quais, ainda sendo coroado,

A maldição antiga lhe trocais
Na bênção, que lhe dais crucificado,
Quando morto d’amor, d’amor matais.


Deus nos abençoe, Daniela.

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